Socialismo e Comunismo
O socialismo, bem como a sua vertente mais bem acabada, o comunismo, é a mais importante proposta teórica revolucionária dos tempos modernos. Suas origens remontam ao início do século XIX, quando, do esforço burguês para apaziguar as agitações operárias, alguns membros reformadores da classe passaram a fazer experimentos que objetivavam modificar as relações de trabalho e torná-las mais justas, uma vez que elas haviam se tornado voltadas à exploração proletária após a Revolução Industrial.
Um desses pioneiros, chamados socialistas utópicos, foi o inglês Robert Owen que, em uma de suas propriedades (uma fábrica de algodão na Escócia), estabeleceu uma jornada de trabalho diário de dez horas e meia por dia, abrindo ainda armazéns para os empregados e creches e escolas para os seus filhos. A princípio, a experiência prosperou, mas como colocava em jogo o princípio capitalista por excelência, a propriedade privada dos meios de produção, logo mostrou-se ineficáz.
Outros reformadores da época tentaram revolucionar as relações de produção, como Blanqui, Proudhon, Saint-Simon e Fourier. No entanto, suas tentativas não progrediam, uma vez que pressupunham a existência de um modelo socialista numa sociedade em que imperava as normas capitalistas e burguesas. Eram, portanto, utópicos. Deste modo, logo tornou-se claro que as relações de produção socialistas só teriam efeito em uma sociedade regida por normas socialistas.
Para tanto, as relações capitalistas deveriam ser destruídas e essa iniciativa, claro, não seria tomada pelo capitalista, e sim pela classe oprimida, o proletariado. Ou seja, haveria uma revolução social. No século XIX, então, surgiu uma teoria que propôs basicamente isso, que pressupunha a ação efetiva da classe trabalhadora. Seu principal articulador foi Karl Marx. Em estrita colaboração com Friedrich Engels, ele foi o introdutor do socialismo científico ao escrever três obras de suma importância para o pensamento político-social que viria após ele: “O Manifesto Comunista”, “O Capital” e “Contribuição À Crítica Da Economia Política”.
Ao perceber que os mecanismos capitalistas eram absolutamente contraditórios, pois pressupunham que a classe dominante, em virtude dos avanços tecnológicos de que dispunha, cada vez mais enriqueceria, enquanto a classe explorada tornaria-se cada vez mais empobrecida e excluída, Marx viu que o proletariado era a força revolucionária máxima da sociedade e que, caso se unisse, seria inevitável a transformação das relações sociais: sua ascensão era inevitável e uma evolução do próprio capitalismo, que envolvia em si próprio sua extinção.
De acordo com essa teoria, a base econômica da sociedade, que Marx chama de infra-estrutura, é responsável pela construção de sua superestrutura específica (Estado, leis, organização jurídica etc.) e da ideologia (filosofia, religião, moral, ciências etc.) que irá reger os mecanismos sociais. Somente através do conjunto formado pela infra-estrutura e pela superestrutura é possível conhecer-se como são organizadas as forças produtivas e, consequentemente, suas relações de produção.
No capitalismo, duas forças produtivas lutam entre si quanto às relações de produção: a burguesia (formada pelos proprietários dos meios de produção) e o proletariado (formada por aqueles que possuem apenas sua força de trabalho). A minoria burguesa, por possuir os meios de produção, explora a maioria proletária, obrigada a vender sua força de trabalho em troca de um salário. Todavia, o montante pago pelo capitalista pelo trabalho executado pelo proletário é muito menor do que o valor final do que ele produziu.
Esse excedente a mais que fica com o explorador é a chamada mais-valia (lucro), que é a base essencial do acúmulo de capital. Desta forma, os interesses das duas classes são diametralmente opostos e, em princípio, irreconciliáveis, o que gera a luta de classes (que, de acordo com Marx, é constante no regime capitalista). Para reverter sua condição, a classe proletária tem como única saída atacar a burguesia naquilo que mantém sua condição como tal: o modo capitalista de produção.
Ao organizar-se em sindicatos e partidos revolucionários, a classe estaria contribuindo para a consciência de classe e agindo para uma eventual destruição do modelo socal vigente. Caso viesse a ocorrer de fato tal processo de mudança, seria implementado o socialismo, sistema em que a propriedade privada dos meios de produção seria substituída pela propriedade social dos meios de produção. Por fim, ao estender-se o processo revolucionário, chegaria-se ao comunismo.
Nesse ponto, as classes sociais seriam extintas, assim como o próprio Estado, e as relações de produção seriam regidas de acordo com os interesses comunitários, sem que houvesse prejuízos para nenhum de seus setores. O pensamento marxista também é conhecido como materialismo histórico e foi a primeira análise científica séria e teoricamente embasada da evolução das sociedades humanas. Pode-se utilizar seus princípios para analisar qualquer evento histórico protagonizado pelo homem desde seu surgimento. Daí sua importância, abrangência e apuro intelectual.