John Locke (1632-1704)
Médico, filósofo e político inglês, considerado um dos maiores sistematizadores do empirismo moderno. Nasceu em Wrington, nas cercanias de Bristol, filho de comerciantes. Estudou em Oxford, formando-se em medicina.
Suas principais influências, nesta época, foram os escritos de Descartes (1596-1650) e a amizade com Boyle, o formulador do conceito de elementos químicos, e Sydenham, médico que repudiava a especulação, fundamento da medicina tradicional, e reformulou as bases da medicina, fundamentando seu tratamento simplesmente na observação das doenças e sua evolução.
Trabalhou como médico particular do lorde Ashley, futuro conde de Shaftesbury. Logo, passou ao cargo de assessor do conde, desempenhando importante papel, junto a esta personagem, na política inglesa. Como o conde representasse os interesses do Parlamento frente às pretensões absolutistas de Carlos II, em 1675 o rei o destituiu de seus cargos políticos.
Lorde Ashley e Locke viajaram, então, para a França, onde permaneceram por três anos. Retornando à Inglaterra, foram novamente obrigados, em 1681, a emigrar para a Holanda, perseguidos pelos partidários do rei. Mesmo após a morte do conde, Locke continuou a ser perseguido na Holanda. Com a Revolução Gloriosa, que consolidou o regime parlamentarista, Locke pôde voltar à Inglaterra, passando a ocupar vários postos administrativos.
Sua obra é vasta, contando com vários escritos filosóficos, médicos, pedagógicos e políticos. Alguns de seus títulos: Ensaio sobre o entendimento humano, sua obra mais importante; Dois tratados sobre o governo civil; Carta sobre a tolerância; Alguns pensamentos referentes à educação; Racionalidade do cristianismo.
O pensamento de Locke toma como ponto de partida a crítica à afirmação da existência de idéias ou noções inatas. Para que o inatismo fosse uma concepção verdadeira, seria preciso encontrar uma noção presente universalmente em todos os seres humanos, sem exceção. A observação, contudo, mostra que isto não ocorre nem mesmo com a idéia de Deus, que, segundo este autor, deveria ser inata antes de qualquer outra.
Contudo, esta não se apresenta em todos os povos, sem exceção; além disso, é possível chegar a ela por via racional, prescindindo, deste modo, de intuições ou noções inatas. Assim, é possível formular a teoria de que o entendimento é como uma tábula rasa, uma página em branco, pronto a ser preenchido com os conteúdos trazidos pela experiência.
O conteúdo do entendimento é composto por idéias, matéria-prima de toda razão ou conhecimento. O termo idéia possui um sentido próprio na filosofia de Locke, servindo para designar todo fenômeno mental, apreensão ou representação de qualquer classe, independente de seu valor de verdade. Elas são formadas, unicamente, a partir da experiência.
Contudo, estas não são, apenas, de natureza sensível; Locke traça uma distinção entre idéias de sensação, formadas a partir dos dados sensíveis, e idéias de reflexão, como “duvidar”, “crer”, “desejar”, “pensar”, provenientes de nossa experiência interna.
As idéias dividem-se, ainda, quanto a sua constituição, podendo ser simples ou compostas. Simples são as idéias formadas a partir de experiências concretas, podendo estas ser de sensação, como o frio, o amargo, a cor; de reflexão, como a vontade, a memória; ou pertencente a ambas, simultaneamente, como a forma, a existência, a duração.
O agrupamento ou relação entre várias idéias simples gera uma idéia de tipo composto. Estas, por sua vez, também podem ser divididas em idéias compostas de reunião ou aglutinação, quando várias idéias simples dão origem a uma idéia única, como a idéia de “homem”; ou idéias compostas de relação, quando as idéias simples, reunidas, continuam aparentes como multiplicidade, como na idéia de oposição, que deixa permanecer as idéias que perfazem os elementos oponentes.
A partir das idéias compostas, Locke elabora sua compreensão de substância. Estas são formadas pela combinação de idéias simples, mostrada através da observação do que ocorre na experiência. Ela é encarada, assim, como um grupo de idéias simples, reunidas através de uma palavra única. Partindo destas considerações, Locke define o conhecimento como a percepção de conveniência ou discordância entre as idéias, expressa através de juízos.
Os liames entre as idéias, componentes de todo conhecimento, podem ser de três tipos: de identidade, pela qual se afirma ou nega algo como algo; relação, quando se remete uma idéia à outra; e coexistência.
No campo da filosofia moral e política, Locke procede como em sua teoria do conhecimento, negando qualquer noção de bem inata aos homens, ou algum poder ao qual os homens devam se sujeitar “por natureza”. Toda moral e política devem fundamentar-se pela razão. Racionalmente, constata-se que os homens são iguais, tendo, da mesma maneira, iguais direitos à existência, liberdade e propriedade.
Por livre consentimento, os indivíduos devem constituir uma sociedade, confiando poder e direitos a um governo representativo. Estes possui a tarefa de resguardar os interesses sociais e individuais.
O pensamento de Locke exerceu grande influência na filosofia moderna, especialmente no século XVIII. Suas idéias políticas serviram de inspiração ao liberalismo político e econômico, embasando teoricamente a revolução burguesa na Inglaterra, o movimento iluminista francês, que emprestou fundamento teórico à Revolução Francesa, e fornecendo os princípios do pensamento que colaborou para a independência americana.
Leia sobre Filosofia
John Locke (Reino Unido)