Um Breve Estudo da Filosofia
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Filosofia
O termo filosofia possui, em nosso uso cotidiano, um sentido amplo. Costumamos empregá-lo como sinônimo de atividade reflexiva, de qualquer teorização ou pensamento.
É nesta acepção que falamos de uma “filosofia de vida”, e até mesmo de uma “filosofia de botequim”. Compreendida, porém, em seu sentido estrito, filosofia, ou antes, philosophia, é um termo surgido na Grécia, empregado para designar um modo determinado de relação com o saber.
Etimologicamente, a palavra philosophia é composta de philos, amigo ou amante, e sophía, saber, sabedoria. Assim, podemos compreendê-la, em seu sentido primeiro, como o amor ou a inclinação ao saber.
O verbo philosophein, filosofar, foi empregado por Heródoto (séc V a.C.) e Tucídides (séc V-IV a.C), historiadores gregos. Os primeiros filósofos a empregar este termo, ainda que em sua forma adjetiva, foram Heráclito de Éfeso (século VI a.C - século V) e Pitágoras de Samos (séc. VI a.C.).
Atribui-se a Pitágoras haver se autodenominado filósofo. E Heráclito escreve (frag. 35): É bem necessário serem os homens amantes da sabedoria (philosóphous) para investigar muitas coisas. Contudo, somente a partir das reflexões de Platão e Aristóteles (384 - 322 a.C.) o termo filosofia se pôde firmar como a denominação de um âmbito particular de investigação: o questionamento acerca do fundamento da realidade, bem como da própria possibilidade de investigar.
De A filosofia surge na Grécia, aproximadamente, no séc VI a.C., embora não como um fenômeno isolado deste povo. Sabe-se que, contribuindo para sua formação, a cultura e o pensamento dos gregos receberam influências de outras civilizações da Antiguidade, como por exemplo a egípcia.
Por esta mesma época podemos ainda encontrar, entre alguns povos do Oriente, especialmente na China e na Índia, um modo de reflexão que, para muitos autores, deve ser, igualmente, denominado filosofia (v. Filosofia oriental). Contudo, foi na Grécia que este pensamento se consolidou de maneira fundamental, a ponto de determinar o questionamento de todo o Ocidente, desde sua origem até nossos dias.
Podemos compreender a origem do pensamento filosófico, na Grécia, a partir de uma dupla vertente: o pensamento mítico e a constituição sóciopolítica da pólis. O mito é uma forma de pensar arcaica, presente em todas as culturas que conhecemos.
Podemos brevemente defini-lo como um modo de interpretação religioso da realidade, transmitido por meio de tradição oral, que determina a compreensão do mundo de um determinado povo, situando e orientando o homem em sua cultura.
Como paradigma sagrado de compreensão, o mito é um saber que, interpretando a origem do universo, dos deuses, dos homens e suas instituições, enfim, de toda e qualquer realidade, fundamenta e estrutura a vida individual e coletiva da comunidade.
No caso da Grécia antiga, sabemos da riqueza, em número e formas, que apresenta o conjunto de seus mitos. É discutível se, na experiência grega, a filosofia aparece como uma ruptura ou como uma continuação do pensamento mítico.
Por um lado, ela rompe com o mito no que diz respeito ao modo de investigar: se podemos descrever a experiência mítica como uma cosmogonia, uma criação ou recriação religiosa da origem do mundo, a filosofia aparece como uma cosmologia, uma apreensão do mundo através do logos.
Isto significa que a filosofia apreende a realidade através do questionamento teórico, trabalhando, a partir de uma visão geral da totalidade do real, com separações e aproximações de idéias - dinâmica própria da razão, que estrutura o modo de pensamento que se tornou mais comum e predominante no Ocidente.
Por outro lado, a filosofia tem em comum com o mito a sua questão: ambos nascem como modos de interpretar a origem (arché) do real. É neste sentido que Aristóteles (384 - 322 a.C.), um dos pais da filosofia, escreve em sua Metafísica : Por isso também o amante de mitos (philómythos) é, de algum modo, filósofo: pois o mito é composto de extraordinário.
Outro ponto considerado fundamental para o surgimento da filosofia entre os gregos é a particularidade que sua organização sóciopolítica apresenta. A Grécia era organizada em um sistema de cidades-estados, as pólis, que possuíam, como características principais: autarquia, isto é, cada cidade grega possuía suas próprias leis e poder para se auto-gerir; democracia, sistema de governo que promovia igual participação dos cidadãos; e a instituição de uma esfera pública, contraposta à privada.
Esta vida pública se dava nas livres discussões em praça pública, a ágora, fazendo com que todo assunto relativo à comunidade - deliberações normativas e políticas, conhecimentos, bem como todo saber técnico ou artístico - estivesse sujeito a discussão ou plebiscito.
Este sistema levou a um apogeu do poder da palavra como elemento capaz de convencer, de criar realidade. A força da persuasão pela palavra era, na experiência da pólis, o meio de exercer comando e domínio sobre os outros cidadãos.
O âmbito de uma tal organização era o do debate, da discussão, da argumentação. Assim, podemos considerar a filosofia como criação da pólis, no sentido de que é deste contexto social e político que a filosofia retira seu poder de argumentação, reflexão e, em síntese, a utilização da palavra como meio de alcançar a verdade.
Mito e pólis contribuem, assim, essencialmente para o surgimento do pensar filosófico entre os gregos.
O primeiro passo para este surgimento foi dado pelo pensamento dos pré-socráticos. Sem ser explicitamente formulado como questão, o pensamento pré-socrático inaugura o problema que vai perfazer toda história do pensamento ocidental, o problema do ser, ao caracterizar a verdade (em grego: alétheia) como o nexo entre linguagem (logos) e natureza (physis).
Para Heráclito (século VI a.C - século V), por exemplo, o filósofo (o anèr philósophos), o que ama a sabedoria, é aquele que busca concordar com a unidade originária da totalidade de todas as coisas. Esta concordância, a sabedoria, é pensada por Heráclito (século VI a.C - século V) como harmonia, o próprio nexo original entre lógos e physis.
Todavia, para que, diante da ameaça do relativismo trazido pelas argumentações sofísticas, se encontre melhor determinado o que se compreende por verdade, o pensamento de Sócrates (470/69 - 399 a.C.) e Platão vai formular explicitamente a questão: o que é?.
Esta questão busca definir isso que subjaz sempre idêntico a si mesmo, a substância ou essência, fundamento de toda instabilidade acidental da existência aparente. O que em Heráclito (século VI a.C - século V) se delimitava como o encontro da harmonia, passa a ser, a partir do pensamento de Sócrates (470/69 - 399 a.C.) e Platão, uma procura: nasce, assim, a filosofia como um desejo de conhecimento.
Aristóteles (384 - 322 a.C.) caracteriza expressamente esta transformação quando afirma, em sua obra v, que O que desde sempre, agora e para sempre, é constantemente procurado, porque sempre de novo a questão fracassa, é o problema: o que é o ser? - A filosofia se constitui, a partir da concepção socrático-platônico-aristotélica, como o pensamento que investiga a questão do ser.
No primeiro livro da Metafísica, Aristóteles (384 - 322 a.C.) define a filosofia como uma ciência teórica dos primeiros princípios e causa. O ser, compreendido como fundamento, princípio, é interpretado como uma causa não causada que é causa de tudo.
Com isto pode ser designado o conceito filosófico de Deus. A filosofia, e este é o seu sentido metafísico, é o conhecimento que busca ir além (em grego: meta) dos entes físicos, ao encontro de Deus, compreendido como fundamento de todas as coisas.
Filosofia como metafísica é simultaneamente um estudo ontológico, a ciência do ser, e teológico, porque pensa o ser como fundamento primeiro. A ontoteologia constitui a filosofia como pensamento metafísico.
Na história da filosofia, o ser foi pensado de diversas maneiras. Para Platão, o ser é idéia; Aristóteles (384 - 322 a.C.) já o pensa como enérgeia; Descartes (1596 - 1650) o chama de consciência, Kant (1724-1804), de razão e Hegel (1770-1831), de espírito.
Por diferentes que sejam os nomes e os modos de compreensão do ser, a identidade da filosofia, o que a faz ser filosofia, é colocar a questão acerca do que faz o ente ser o que ele é, a questão do fundamento da realidade, isto é, a questão do ser.
Filosofia Analítica
Vertente de pensamento contemporâneo que ressalta o papel da filosofia como investigação calcada nos desdobramentos da linguagem. Esta doutrina afirma, ainda, a análise como o método próprio de consideração deste problema.
Podemos compreender análise, de maneira geral, como a interpretação que consiste em converter todo objeto de estudo a seus elementos de constituição mais simples.
Deste modo, filosofia analítica investiga a linguagem a partir de uma compreensão de seus elementos constituintes, elaborando, a partir deles, seu corpo conceitual. Por ter como foco principal a questão da linguagem, foi também denominada, por diversos historiadores da filosofia, filosofia da linguagem ou análise da linguagem.
Este âmbito de investigação filosófica tem início no final do século XIX e princípio do século XX. Seus iniciadores são, fundamentalmente, Frege, Russell e Moore. Frege realizou importantes estudos, no sentido de fundamentar a álgebra na lógica.
A filosofia de Bertrand Russell, embora tenha percorrido várias fases, é caracterizada, em linhas gerais, como um atomismo lógico, segundo o qual há correspondência direta entre os fatos do mundo e as proposições significativas, sendo estes dois âmbitos irredutíveis e perpetuamente relacionados os elementos últimos, os átomos formadores da linguagem e da realidade.
Por sua vez, Moore afirma a necessidade de empreender uma análise da linguagem a partir de seu uso cotidiano, de modo a ser possível descobrir as formas lógicas intrínsecas à expressões gramaticais empregadas na linguagem comum. A partir destas três vertentes, a filosofia analítica expandiu-se, a princípio principalmente na Inglaterra, com as escolas de Oxford e Cambridge, e na Áustria, com o Círculo de Viena.
Wittgenstein (1889-1951) representa um nome eminente da filosofia analítica, uma vez que influenciou marcadamente os pensadores de Viena. Sua filosofia não pode, porém, ser identificada com nenhuma doutrina unitária, apesar de haver sido discípulo de Russell e compartilhado muitas idéias comuns com os integrantes do Círculo.
Posteriormente, o método analítico de investigação da linguagem difundiu-se para os Estados Unidos e Alemanha. Podemos citar, como alguns de seus principais representantes: Quine (1908 -), Wisdom, Austin (1911-1960), Searle, Anscombe, Tugendhat, Apel, Habermas, entre outros.
Filosofia da Ciência
Recebe esta denominação o ramo da filosofia especializado em investigar os fundamentos do saber científico. Igualmente chamada de epistemologia (do grego epistéme, ciência, saber, e lógos, discurso), a filosofia da ciência aparece como uma especialização da teoria do conhecimento. No mundo ocidental, a ciência aparece como a modalidade mais rigorosa do conhecimento humano, por ser constituída sobre um modelo máximo de racionalidade, ao mesmo tempo que satisfaz as exigências práticas de aplicabilidade.
A consideração das ciências como campo de estudo filosófico particular incide, por princípio, quanto à sua forma, e não ao conteúdo destas. A forma do conhecimento científico consiste na estrutura racional que lhe confere o caráter de cientificidade. A maneira como este modelo é encarado varia, ao longo da história da filosofia, em cada época, bem como de pensador para pensador.
Contudo, a Era Moderna passou a adotar o modelo de rigor matemático como paradigma da racionalidade científica, adoção que, em grande parte, foi herdada pela epistemologia contemporânea.A partir do século passado, todavia, com o aparecimento das chamadas ciências humanas, ou ciências do espírito, este modelo teve de sofrer uma estruturação radical, sob pena de, mantendo a exigência de uma racionalidade matemática, a epistemologia não poder conferir a estes saberes a denominação de ciência.
De fato, alguns epistemólogos contemporâneos, como aqueles pertencentes ao Círculo de Viena, assim procedem. Outros, como Canguilhem e Michel Foucault (1926-1984), propõem a renovação do critério de cientificidade a partir de uma setorialização, de modo a incorporar as ciências humanas. Ao invés de tomar a ciência a partir de um modelo único, segundo esta postura, é preciso investigar a racionalidade própria a cada modalidade científica.
A filosofia das ciências possui como tarefa distinguir o saber considerado científico de duas modalidades básicas do saber humano, que com ela confinam: o saber ordinário, do senso comum, e o saber filosófico. Ciência e opinião podem distinguir-se, basicamente, quanto a sua fundamentação; enquanto a primeira funda-se em leis gerais, elaboradas como uma teoria coerente e verificáveis pela experiência, a segunda funda-se em um saber puramente empírico, herdado, muitas vezes, de uma tradição.
Assim, o senso comum não lida com o que é definido cientificamente como verdadeiro, em seu caráter rigoroso e experimentável; seu âmbito é, antes, ou o do tautológico ou o do meramente provável. A distinção entre ciência e filosofia é mais problemática, havendo três posições possíveis, adotadas pelos epistemólogos: ou estes saberes são encarados como idênticos, confundindo-se, ou são tidos por absolutamente distintos, sem nada em comum, ou são afirmados como distintos, porém dotados de múltiplas interrelações.
Contudo, podemos afirmar uma distinção básica entre estes dois campos: a pergunta pelo fundamento da racionalidade científica, enquanto questão a um só tempo geral e originária, não provém da própria ciência. A filosofia é o único saber que, por excelência, investiga o fundamento de todo agir humano, bem como da própria realidade.
O regionalismo professado pela ciência contemporânea afasta-a, cada vez mais, de uma especulação tão genérica. Contudo, esta é a questão que, segundo o pensamento filosófico, a integra ao modo de ser do humano, enquanto ação de busca por dominação e conhecimento da totalidade do real.
Filosofia da Linguagem
A investigação que problematiza a linguagem acompanha a filosofia ao longo de toda a sua história. Sendo a linguagem o modo propriamente humano de relacionar-se com as coisas e com os outros homens, a pergunta acerca de sua natureza confunde-se com a questão do pertencimento do homem ao mundo, e de suas relações com os outros homens. Assim, sua investigação, muitas vezes, confunde-se com os âmbitos da ontologia, da teoria do conhecimento, da estética e da ética.
A linguagem é trabalhada pela filosofia desde o pensamento pré-socrático. Heráclito (século VI a.C - século V) compreende o logos como a articulação que conjuga a multiplicidade constitutiva do real em uma unidade originária. Os sofistas elaboraram esta questão de modo a apontar o poder da linguagem, especialmente em seu aspecto retórico. Platão problematiza a origem dos nomes, especulando sobre seu caráter natural ou arbitrário.
Além disso, procura abordar a linguagem a partir de sua possibilidade de expressar o falso, possibilidade que lhe havia sido negada por Protágoras. Aristóteles (384 - 322 a.C.) desenvolveu uma teoria sobre a linguagem em vários níveis, partindo do ontológico até a consideração de seu aspecto puramente formal, sendo considerado o criador da lógica. Juntamente com Aristóteles (384 - 322 a.C.), os estóicos realizaram importantes investigações neste campo, especialmente no desenvolvimento de uma lógica proposicional.
Durante a Idade Média, a linguagem foi tratada com especial atenção, principalmente quanto aos problemas da significação e da disputa dos universais. Na era Moderna, a linguagem foi abordada de modo mais acurado principalmente pelo pensamento empirista, que, apontando a linguagem como instrumento do pensamento, afirmavam a necessidade de estudá-la criticamente, eliminando as falácias de pensamento de que era, comumente, causadora.
A linguagem foi igualmente enfocada de maneira aprofundada por Leibniz, na tentativa de construção de um saber universal baseado em uma linguagem matematizada. Outra linha de estudo foi inaugurada por Vico (1668-1744); este filósofo enfatizou o caráter social e histórico de construção de toda linguagem, aí buscando suas origens.
Em nosso século, assistimos a um redimensionamento desta problemática. A linguagem ganhou outro estatuto, tornando-se necessário criar a filosofia da linguagem como um dos ramos específicos da investigação filosófica. Contudo, o pensamento contemporâneo não aborda esta questão de maneira unitária; ao contrário, assistimos uma proliferações de teorias e métodos de abordagem deste problema.
Desta forma, a fenomenologia, o positivismo lógico, o pragmatismo, o estruturalismo, a filosofia analítica (apesar desta corrente ser, por muitos autores, designada como filosofia da linguagem, preferimos abordar esta disciplina em um sentido mais amplo), o pensamento de Heidegger (1889-1970), a filosofia de Wittgenstein (1889-1951) são alguns exemplos desta diversidade.
Porém, se ela não permite qualquer enfoque unificante, ela ao menos serve para apontar um caminho de investigação; é possível afirmar que a linguagem constitui o problema filosófico capital de nosso século.
Filosofia de Smith
Devido ao mercado se regular por sua própria conta, Smith (1723-1790) se opõe com veemência à intervenção do governo, que acabaria intervindo para satisfazer seu próprio interesse, prejudicando, desta forma, as forças da concorrência. É por isso que o “laissez-faire” (deixar fazer) converte-se em sua filosofia fundamental, não porque Smith (1723-1790) se oponha a idéia da responsabilidade social, e sim porque está convencido de que isto se conseguirá de forma mais eficiente através do mecanismo da mão invisível, e não por meio da intervenção do governo.
Sua defesa do laissez-faire não fez de Adam Smith (1723-1790) um conservador comum, “A Riqueza das Nações” está cheia de comentários críticos sobre os meios ruins e rapinagem industrial. O livro simpatiza abertamente com os trabalhadores e se preocupa com eles, algo não muito popular na época de Adam Smith. Se Adam Smith defende com paixão o “Sistema de Liberdade Natural”, ou seja, o sistema baseado na liberdade econômica, é porque ele acreditava que beneficiaria o público em geral e não os interesses mesquinhos de qualquer classe individual.
Filosofia Antiga (Século VI - século IV/III a.C.)
Recebe esta denominação o período inicial da história da filosofia. Também designada filosofia grega e filosofia clássica, seu início marca a própria origem disso que, no Ocidente, recebeu o nome de filosofia. Seu desenrolar compreende: o pensamento pré-socrático ; a sofística; a filosofia de Sócrates (470/69 - 399 a.C.) ; as escolas cínica, cirenaica e megárica; e seu apogeu, com Platão e Aristóteles (384 - 322 a.C.).
Tentando abordar uma característica comum a todos estes pensadores e escolas, podemos afirmar que este período se encontra marcado por uma mesma investigação, que perpassa a grande diversidade de pensamentos aí manifesta: a correlação entre phýsis e logos. Tomar estes termos em suas traduções usuais, por natureza e razão ou discurso, é perder a força própria à experiência de realidade, expressa, pelo pensamento antigo, através destas noções.
Para a concepção grega, phýsis denomina isto que emerge e vem a ser a partir de si próprio, tomando a si mesmo como causa. Ela diz respeito, assim, ao princípio constituinte de toda realidade, a unidade desde a qual os entes, em sua totalidade, vêm a ser isto que eles mesmos são.
Por seu turno, logos não se distingue, radicalmente, de physis; ele expressa o movimento de deixar o ente apresentar-se e permanecer presente como isto que ele é. A tal movimento de deixar ser o ente, pertence a linguagem. Esta é, assim, encarada desde o modo de apresentação, o que a torna intrínseca ao movimento de phýsis.
O pensamento grego caracteriza-se, desta forma, por uma consideração não dicotômica das relações entre ser e linguagem. Somente a partir desta unidade fundamental, podem ter início o pensamento sofístico, que, percebendo o laço entre ser e linguagem, nega a possibilidade do falso, e o processo que visa iniciar a apreensão de delimitações e distinções entre os dois campos, representado pelas filosofias de Platão e Aristóteles (384 - 322 a.C.).
Os principais representantes da filosofia antiga são: Tales (Cerca de 625/4-558/47 a.C.), Anaximandro (610/11- 547 a.C.), Anaxímenes (585-528/5 a.C.), Heráclito (século VI a.C - século V), Pitágoras, Parmênides (540-450 a.C.), Zenão (464/41 a.C.), Melisso, Empédocles (Cerca de 492/90-435 a.C.), Arquitas, Anaxágoras (499-428 a.C), Demócrito (460?-370? a.C.), Leucipo, Filolau, Alcmeão, Xenófanes (Cerca de 570-470 a.C.), Diógenes de Apolônia, Protágoras, Górgias, Sócrates (470/69 - 399 a.C.), Antístenes, Aristipo, Platão, Aristóteles (384 - 322 a.C.).
Sofistas (Séc V - IV a.C.)
Escola de pensamento e ensino surgida em Atenas, logo difundida para o restante da Grécia. A palavra sofista (em grego sophistés) possui um sentido amplo, servindo, durante todo o período clássico, para indicar alguém que se preocupa com a questão do saber, estando por ela concernido.
Assim, este termo não pode ser claramente distinguido, em um primeiro momento, da designação filósofo (em grego philósophos, amigo ou amante do saber). Os sofistas surgem, a princípio, encarregados da tarefa de educar os jovens que desejavam ingressar na vida política de suas cidades.
O século V testemunha a consolidação de Atenas como centro difusor de cultura, técnica e filosofia, sobrepujando assim as cidades da Magna Grécia, que haviam ocupado este papel de destaque até o século VI. O principal motivo histórico para este fato foi a importante contribuição de Atenas para a vitória dos gregos na guerra contra os persas. A aliança das cidades gregas contra a Pérsia trouxe a Atenas riqueza e poderio naval. A cidade, que tivera seus templos destruídos durante o domínio persa, foi reconstruída sob a administração de Péricles. Isso contribuiu para atrair a esta cidade técnicos e artistas dos mais variados ofícios, de modo que Atenas, além de tornar-se a cidade mais bela do mundo helênico, passou a ser núcleo de congregação dos mais variados saberes, tanto técnicos como artísticos.
Contudo, a falta de um estabelecimento e sistematização do saber requerido pelos jovens levou ao aparecimento de uma nova classe: os sofistas, mestres do saber, que iam de cidade em cidade ensinando e, desta maneira, formando a juventude grega, mediante pagamento. O ensino dos sofistas voltava-se, sobretudo, para as exigências da época: com a consolidação da democracia grega, o principal foco de ensino passou a ser a preparação de uma virtude política. Esta, por seu turno, se encontrava calcada no domínio da oratória., arte de convencer mediante a aptidão ou excelência discursiva. Desse modo, os mestres do saber tornaram-se, fundamentalmente, mestres do discurso, passando a ser a linguagem o principal foco de suas considerações.
Com os sofistas, surgiu uma nova questão para a investigação filosófica: deslocou-se o foco da pergunta pré-socrática acerca da realidade (phýsis); a nova perspectiva passa a ser o problema da linguagem em toda sua envergadura; seu poder, seus limites e seu modo próprio de apreensão da realidade. Se todo saber passa pelo discurso, sendo pela palavra apreendido e transmitido, em que medida o saber falar pode ser tomado pela totalidade do saber? Esta é a pergunta fundamental que se coloca com o advento da sofística. Alguns sofistas, contudo, pretendiam ter uma resposta pronta para esta indagação: eles afirmavam poder ensinar qualquer assunto, apenas ensinando a arte da retórica. Assim, o termo sofista passou a receber um sentido pejorativo, indicando o retórico, isto é, aquele que fala somente para convencer, sem nenhum compromisso com a verdade.
Outra razão que leva a considerar as questões trazidas pela sofística de fundamental importância é a oposição tenaz que este movimento encontrou, no pensamento de Sócrates (470/69 - 399 a.C.), Platão e Aristóteles (384 - 322 a.C.). Os três maiores nomes da filosofia clássica só puderam dedicar-se a discutir acirradamente com os sofistas uma vez que já haviam sido fundamentalmente tocados por sua questão. O papel da sofística na história da filosofia é tão importante que podemos afirmar: somente por contigüidade e delimitação mútua estes pensadores podem, em suas investigações, distinguir o sofista do filósofo.
Os mais importantes representantes da posição sofística são: Protágoras de Abdera, Pródico de Queos, Hípias de Elis e Górgias de Leontini. Dentre eles, Protágoras, Hípias e Górgias deram nome a três diálogos platônicos.
Pré-Socráticos (Séc VI e V a.C.)
Os pré-socráticos, também chamados, ao longo da história da filosofia, pré-platônicos e pré-aristotélicos, são os primeiros pensadores do Ocidente, aqueles que deram início ao questionamento filosófico. Seus principais representantes são: Tales de Mileto (Cerca de 625/4-558/47 a.C.), Anaximandro de Mileto (610/11- 547 a.C.), Anaxímenes de Mileto (585-528/5 a.C.), Xenófanes de Cólofon (Cerca de 570-470 a.C.), Heráclito de Éfeso (século VI a.C - século V), Pitágoras de Samos, Alcmeão de Cróton, Parmênides (540-450 a.C.) de Eléia, Zenão de Eléia (464/41 a.C.), Melisso de Samos, Empédocles de Agrigento (Cerca de 492/90-435 a.C.), Filolau de Cróton, Arquitas de Tarento, Anaxágoras de Clazômenas (499-428 a.C), Leucipo de Abdera, Demócrito de Abdera (460?-370? a.C.) (era comum, na Antiguidade, designar uma pessoa por seu nome e cidade de origem). Segundo as afinidades existentes entre seus pensamentos, estes filósofos se agruparam em determinadas escolas, como a jônica, a milésia, a pitagórica, a eleática. É interessante notar que a filosofia não surge a princípio, como seria possível pensar, em Atenas, mas sim nas colônias gregas espalhadas pela Ásia Menor. Segundo os historiadores da filosofia, isso foi propiciado devido a expansão econômica, mercantil e técnica, destas colônias, ocorrida durante o séc. VII, o que contribuiu para a formação de um pensamento eminentemente especulativo e compreensivo da realidade.
Aristóteles (384 - 322 a.C.) chamou estes pensadores de fisiólogos (physiólogoi) porque os seus pensamentos investigam a natureza (physis). A caracterização de Aristóteles (384 - 322 a.C.) deve ser corretamente compreendida. Fisiólogo não é um termo que deva ser confundido com nossas noções modernas e científicas de física ou fisiologia. Os pré-socráticos merecem tal denominação porque pensam a natureza (physis) como o princípio (arché) de constituição de toda e qualquer realidade. Para eles, a physis é compreendida como "o que brota e emerge a partir de si mesmo", podendo ser reunida e apresentada no lógos. Traduzido por discurso, razão ou pensamento, o lógos caracteriza a possibilidade de falar de acordo com a physis, buscando compreender a unidade que dá origem à multiplicidade aparente. Seja a água, como em Tales (Cerca de 625/4-558/47 a.C.), o fogo, em Heráclito (século VI a.C - século V), o indeterminado de Anaximandro (610/11- 547 a.C.), a comunhão dos elementos em Empédocles (Cerca de 492/90-435 a.C.), o átomo de Leucipo e Demócrito (460?-370? a.C.), ou mesmo o número para Pitágoras, trata-se sempre de um pensamento que busca indicar, através de um determinado elemento, a unidade original da physis, pela qual a totalidade do real pode ser compreendida. Por ser um pensamento (logos) (physis), Aristóteles (384 - 322 a.C.) acerca da natureza os caracterizou como fisiólogos.
Os escritos dos pré-socráticos chegaram até nós sob forma de fragmentos, através de citações ou comentários (doxografia) de Platão, Aristóteles (384 - 322 a.C.), Teofrasto, Diógenes Laércio e outros filósofos e historiadores de períodos mais recentes.
Outros pré-socráticos:
Alcmeão de Crotona (Grécia) (Escola pitagórica)
Eleatas (Sec. VI - V a.C.)
Escola de pensamento pré-socrático formada por Xenófanes de Cólofon (Cerca de 570-470 a.C.), Parmênides (540-450 a.C.) de Eléia, Zenão de Eléia (464/41 a.C.) e Melisso de Samos, Estes filósofos recebem tal denominação porque nasceram ou desenvolveram as suas atividades filosóficas na cidade de Eléia. Xenófanes (Cerca de 570-470 a.C.), apesar de nascido em Cólofon, emigrou para Eléia, devido à conquista da Jônia pelos persas, e Melisso, oriundo de Samos, foi, contudo, discípulo dos ensinamentos de Parmênides (540-450 a.C.).
É característica desta escola a afirmação da unidade como princípio (arché) da pluralidade existente na realidade. Esta unidade será enfocada diferentemente por cada um destes autores. Admitindo o Uno como o verdadeiro por excelência, esta corrente de pensamento se distingue por argumentações que visam a negar atribuir verdade à experiência do movimento, uma vez que a existência desse pressupõe a multiplicidade e, assim, contradiz a unidade.
Filosofia Helenístico-Romana (Século IV a.C. - século IV d.C.)
Recebe tal denominação o período da história da filosofia que dá seguimento à filosofia antiga, e se estende até a irrupção do pensamento medieval. Após a última grande realização metafísica grega, com a construção do sistema aristotélico, inaugura-se na Grécia um período eminentemente voltado para investigações de âmbito moral e religioso. A conquista deste país por Alexandre e, posteriormente, pelos romanos, faz com que esta modalidade de pensamento se dissemine por todas as regiões pertencentes a estes domínios.
As principais escolas que representam este período, surgidas na Grécia e perpetuadas através de Roma até fundirem-se, em nossa era, à nascente doutrina cristã, são: o estoicismo, o epicurismo, o ceticismo, o platonismo professado pela Academia e o aristotelismo, propagado através do Liceu. Com a assimilação destas correntes pelo mundo romano, aliada à incorporação de elementos próprios a diversas religiões orientais, a filosofia ganha características sincréticas.
Nos primórdios da era cristã, ocorre, ainda, o advento dos sistemas neopitagórico e neoplatônico; este último constitui a mais marcante contribuição de pensamento oriunda deste período, e representa o último florescimento da especulação metafísica grega.
A filosofia helenístico-romana compreende, propriamente, três períodos. Uma primeira fase, marcada pelo helenismo, que representa a expansão da cultura grega (helênica), especialmente das escolas pós-aristotélicas, ao mundo ocidental. Na segunda fase, inaugura-se o pensamento romano; este, incorporando a Grécia a seu Império, incorpora igualmente a filosofia helenista, trazendo-a, contudo, para uma correlação mais estreita com o âmbito pragmático.
Esta é a característica mais marcante do modo de ser romano, preferencialmente voltado para a atividade, o negotium. Assim, a maior realização deste povo é a criação de uma sistematização jurídica, que dá origem ao direito, na forma como atualmente o conhecemos. A partir desta perspectiva, Roma desenvolve uma filosofia inteiramente voltada para o homem, encarado desde sua determinação ética.
A terceira fase deste movimento abrange os primórdios do pensamento cristão; este realiza a transição do pensamento pagão à religião cristã, e assimila as principais doutrinas do pensamento romano, especialmente a concepção neoplatônica. Neste período, realiza-se a fusão das noções gregas de Uno, logos e nous com a concepção cristã de Pai, Filho e Espírito Santo, componentes da Trindade divina, fusão decisiva para a consolidação da nova mentalidade religiosa ocidental.
Pertence a esta fase o segmento dos Apologistas, primeiros grandes defensores e sistematizadores da doutrina cristã, formados, contudo, dentro dos moldes da educação e da filosofia romanas.
Os principais pensadores deste período são: Zenão de Cítio, Crisipo, Epicuro (341-271 a.C.), Pirro de Élis, Sexto Empírico, Cícero, Sêneca, Marco Aurélio, Plutarco, Lucrécio, Proclo, Plotino, Jâmblico, Fílon, Porfírio, São Clemente, Orígenes, São Justino, Minúcio Félix e Tertuliano.
Filosofia Medieval (Séc. V - séc. XIV)
É designado por este nome o período da história da filosofia que se inicia com as considerações de Santo Agostinho (354 - 430 d.C.), estendendo-se até o momento de crítica aos princípios escolásticos, efetuada principalmente por Guilherme de Ockham, que prepara o terreno para o surgimento de uma nova ótica, inaugurada entre os séculos XIV e XV, com o advento da filosofia renascentista.
A filosofia medieval é marcada, no Ocidente, por considerações de caráter metafísico, aliadas a um pensamento de fundo teológico. Assim, é possível identificá-la, em certa medida, ao período de apogeu da filosofia cristã. Contudo, não é possível desconsiderar a influência das filosofias árabe e judaica, que floresceram durante este período, contribuindo para a formação e desenvolvimento de várias concepções cristãs.
Assim, podemos afirmar que o pensamento medieval compreende, em linhas gerais:
• a filosofia patrística ;• a escolástica ;
• as filosofias árabe e judaica;
• a mística ;
• o neoplatonismo do século XII;
• o agostinianismo;
• o tomismo;
• o realismo e o nominalismo, instaurados a partir da disputa dos universais,
• entre outras correntes.
Podemos compreender a filosofia medieval não somente em termos de periodização cronológica, mas principalmente pelo privilégio na consideração de determinados temas, bem como pelo tratamento conferido a estes.
Em primeiro lugar, o pensamento na Idade Média se encontra em estreita correlação com a filosofia antiga, tanto com relação aos filósofos clássicos gregos quanto aos pensadores do período helenístico-romano. Seu pensamento retoma em grande parte elementos próprios ao platonismo, neoplatonismo e aristotelismo antigos.
Durante este período, procede-se a um valioso resgate, tradução e comentários dos textos antigos, tornando-os matéria de discussão nos principais círculos filosóficos. Neste sentido, é possível dizer que a filosofia medieval representa uma “continuação” da filosofia antiga. Contudo, trata-se, antes, de uma reelaboração de temas antigos. Estes são, durante a Idade Média, retomados e interpretados desde uma nova perspectiva, característica deste período: a do religioso. Esta filosofia parte de considerações de cunho teológico, determinantes para uma nova compreensão do pensamento antigo.
Por tomar como ponto de partida uma compreensão da realidade que tem a crença Deus como fundamento, as preocupações próprias ao pensamento medieval se estruturam em torno de algumas considerações centrais:
• as relações entre filosofia e teologia, ou a delimitação possível entre razão e fé;
• a determinação da natureza e propriedades de Deus, bem como a relação entre o Criador e as criaturas, em especial o homem;
• a consideração de uma temporalidade estruturada a partir da idéia de Criação, efetuada desde o nada, o que acarreta a compreensão de uma temporalidade linear;
• a afirmação do mundo como imagem divina, o que permite encarar cada ente criado como símbolo e manifestação de seu Criador.
Contudo, estes são alguns aspectos de ordem geral, que não permitem visualizar a riqueza e profundidade próprias aos vários filósofos medievais.
Alguns dos principais pensadores da Idade Média: Santo Agostinho (354 - 430 d.C.), Santo Anselmo (1035-1109), João Escoto Erígena (Cerca de 810-877), Avicena, Abelardo, São Bernardo, Averróis (1126-1198), Santo Alberto Magno, Roger Bacon, São Boaventura, Tomás de Aquino (1227-1274), Mestre Eckhart, Duns Scot, Guilherme de Ockham.
Filosofia Renascentista (Fim do século XIV - início do século XVII)
Por este termo, denomina-se o período da história da filosofia iniciado a partir da Idade Média, e que lança as bases para a consolidação dos principais pressupostos da posterior filosofia moderna.
Por constituir-se como transição, este é um período conturbado, apresentando múltiplas facetas.
Uma de suas características principais é a tentativa de perpetrar um retorno, bem como uma revalorização do mundo antigo.
A antiguidade clássica jamais deixou de fazer-se presente na filosofia ocidental; durante a Idade Média, contudo, as filosofias grega e romana sofreram uma adaptação interpretativa, o que permitiu aliá-las à compreensão cristã da realidade.
O Renascimento pretende um retorno à antiguidade, onde o pensamento clássico possa operar livre das amarras de uma interpretação cristianizante.
Aliada a isso, constata-se a irrupção de novas maneiras de encarar a religião, insurgidas contra a extrema rigidez da escolástica medieval.
Nesta época, florescem as concepções místicas acerca do universo, influenciadas pela mística e teologia viva, presente em algumas vertentes do pensamento medieval, bem como pela derrocada da concepção medieval teocêntrica do universo; de outra parte, é durante o Renascimento que surge a Reforma protestante, movimento que traz a individualidade, questão central ao pensamento da época, para o cerne da concepção religiosa.
Renascem, assim, a concepção platônica da realidade, bem como uma tendência de pensamento de tipo panteísta.
Outra característica é o abrupto avanço da ciência e o grande desenvolvimento das técnicas, operados neste período.
Amplia-se a concepção medieval de mundo, com a teoria copernicana do sistema heliocêntrico e seu desdobramento, por Galileu, que postula a infinitude do universo.
A ciência volta-se para a investigação da natureza, abandonando o método especulativo e criando a base do método científico moderno, de tipo experimental-matemático.
No campo das artes, opera-se uma valorização do homem e da natureza como temática principal. Surge ainda, nesta época, uma ciência política, que toma o homem por objeto de consideração e baseia-se fundamentalmente na observação, dos percursos da história e das experiências concretas das diversas coletividades.
Os principais representantes da filosofia renascentista, em sua multiplicidade de enfoques e aspectos, são: Nicolau de Cusa, Telésio, Giordano Bruno, Campanella (1568-1639), Galileu, Erasmo (1469-1536), Thomas Moore(1779-1852), Maquiavel (1469-1527), Pico della Mirandola, Montaigne (1533-1592), Francis Bacon (1561-1626).
Filosofia Moderna (Séc XVII - séc XIX)
Recebe esta denominação o pensamento realizado em vários países da Europa, compreendido, em linhas gerais, desde as considerações de Descartes (1596 - 1650) até a sistematização filosófica de Hegel (1770-1831). Contudo, tal delimitação possui muito de arbitrário, uma vez que, por um lado, alguns autores renascentistas, como por exemplo, Galileu, configuram antecipações do modo eminentemente moderno de abordar a realidade; por outro, alguns dos principais temas considerados modernos perduram em várias linhas da investigação filosófica atual.
Deste modo, deve-se ter em mente que esta classificação é, fundamentalmente, esquemática, servindo para ordenar as diversas modalidades de pensamento apenas de forma aproximada.
A principal característica deste período é a busca dos princípios pelos quais o homem pode apreender verdadeiramente a realidade. Enquanto é possível designar as filosofias antiga e medieval como períodos, fundamentalmente, ontológicos, por voltarem-se para a investigação do real e seus fundamentos, pode-se dizer que a filosofia moderna é um período eminentemente gnoseológico da história da filosofia, sendo sua principal consideração o problema do conhecimento.
Este conhecimento é marcado pela vinculação matemática que possui a ciência deste período. Deste modo, a verdade buscada pelo conhecimento filosófico moderno deve possuir a certeza, a simplicidade, a clareza e a mensurabilidade próprios ao âmbito matemático que lhe serve de parâmetro. Sendo o principal foco de interesse a questão do conhecimento, o pensamento moderno caracteriza-se, ainda, por adotar uma postura subjetivista.
A análise das condições necessárias para o conhecimento seguro da realidade conduz, forçosamente, a uma análise do eu subjetivo, como o campo no qual o conhecimento tem lugar. O conhecimento buscado por esta filosofia, que possui a certeza do conhecimento matemático, deve ser, por este motivo, necessariamente racional.
A razão é o modo verdadeiro de acesso à realidade, devendo aplicar-se a uma investigação dos fenômenos naturais tanto quanto à investigação de seus próprios fundamentos. Neste sentido, as posições consideradas antagônicas neste período -- o empirismo e o racionalismo -- comungam, porém, quanto à utilização de métodos fundamentalmente racionais para postular, seja a experiência, seja o intelecto, o princípio constituidor da realidade.
Entre os principais filósofos modernos, podemos citar: Descartes (1596 - 1650), Espinosa(1632-1677), Pascal (1623-1662), Leibniz, Malebranche (1638-1715), Hobbes (1588-1679), Locke (1632-1704), Hume (1711-1776), Berkeley (1685-1753), Bacon (1561-1626), Montaigne (1533-1592), Newton, Rousseau (1712-1778), Voltaire, Vico (1668-1744), Kant (1724-1804), Fichte (1762-1814), Condillac, entre outros.
Filosofia Contemporânea
Ao contrário das filosofias antiga, medieval e moderna, que possuem uma unidade bem delimitada e, assim, apresentam características determinadas, a filosofia contemporânea é formada por diversas tendências e diferentes problemas, sem apresentar, portanto, uma orientação comum que possa vir a caracterizar univocamente o que seja o pensamento contemporâneo.
De modo geral, a filosofia contemporânea começa a partir da crise do pensamento moderno. Se o pensamento moderno se funda na soberania da razão, o contemporâneo nasce com a crítica ao racionalismo. Podemos situar historicamente este nascimento, de acordo com alguns autores, por volta do ano de 1831, ano da morte de Hegel (1770-1831), com o movimento do romantismo alemão; todavia não há uma unanimidade quanto a esta data, já que muitos autores defendem a tese de que este nascimento só irá ocorrer nas últimas décadas do século XIX.
Pela própria pluralidade da filosofia contemporânea, é impossível reduzir todas as vicissitudes deste pensamento a alguma característica determinada. Neste sentido, destacaremos apenas os traços mais importantes deste período da filosofia, sem todavia determinarmos uma essência que perpassa todo este pensamento.
Podemos citar como características mais importantes da filosofia contemporânea os seguintes fatos:
▪ a crise da metafísica com a derrocada do ideal pós-kantiano (Leia sobre Kant)e o conseqüente abalo nos fundamentos das diversas ciências;
▪ o abandono do mecanicismo clássico para dar lugar, cada vez mais, a um fenomenismo;
▪ surgimento de um pensamento contrário a toda perspectiva metafísica da questão filosófica;
▪ uma crescente preocupação pelos temas da evolução, tanto no âmbito biológico como no social, o que proporciona o surgimento de um pensamento evolucionista histórico;
▪ o surgimento de uma filosofia política, cujo propósito é não só pensar a realidade mas, principalmente, transformá-la socialmente;
▪ a recusa de um idealismo romântico em prol de um neo-positivismo dinâmico e especializado, com um cunho científico matemático como também histórico e psicológico;
▪ surgimento de filosofias dos valores e da vida, assim como da fenomenologia, do materialismo e do existencialismo;
▪ constituição de uma psicologia da forma que busca pensar não só estruturas psicológicas, como também físicas e genéticas;
▪ o advento da psicanálise e a questão do inconsciente;
▪ o pragmatismo lógico, as filosofias da linguagem, as analíticas, o desenvolvimento da lógica;
▪ o marxismo (leia sobre Karl Marx)em todas as suas vertentes filosóficas e políticas.
Filosofia no Brasil
O pensamento filosófico brasileiro constituiu-se a partir do final do século XVIII, passando por sucessivas mutações, até ganhar a pluralidade de formas e correntes que possui em nossos dias. Contudo, não é possível falar de uma tradição intrinsecamente brasileira de pensamento, constituidora de um cabedal de idéias e de uma metodologia próprios. Em um país relativamente jovem, cuja porção letrada era formada por imigrantes europeus e seus descendentes, a filosofia em nosso país foi, em sua quase totalidade, influenciada por correntes européias, predominantemente pelo pensamento e cultura franceses.
Os primeiros pensadores brasileiros de que se tem notícia adotavam as teorias sensistas e materialistas de Condillac e Cabanis, tentando conciliá-las com o espiritualismo eclético, veiculado, especialmente, por Victor Cousin. Dentre os adeptos deste direcionamento, destacam-se, no século XIX, Eduardo Ferreira França e Domingos José Gonçalves de Magalhães.
Contrapondo-se a esta tendência, a filosofia tomista sempre encontrou expressão no Brasil. Seu principal órgão de difusão foram os padres jesuítas, cuja ordem chegou ao país na época mesma de seu descobrimento. Podemos citar, entre seus principais representantes no século passado, José Soriano de Souza e Vicente Cândido Figueiredo de Sabóia.
O principal objetivo destes pensadores era empreender a crítica, a um só tempo, do materialismo e do espiritualismo reinantes entre os filósofos brasileiros de seu tempo, a fim de apresentar o pensamento escolástico como solução para resolver a contradição matéria-espírito, presente na obra dos filósofos criticados.
Uma doutrina largamente difundida em nosso país durante todo o século passado, permanecendo atuante até as primeiras décadas deste século, é o positivismo. Seus adeptos exerceram influência não apenas filosófica, mas igualmente política, desempenhando importante papel na proclamação da República (vale a pena lembrar que o lema Ordem e Progresso, presente em nossa bandeira, é igualmente o lema do positivismo comtiano).
Podemos citar, como seus mais eminentes adeptos, Benjamin Constant, Miguel Lemos e Teixeira Mendes. As correntes evolucionistas e culturalistas, em voga na Europa durante a segunda metade do século XIX, também encontraram-se representadas no Brasil. Seus principais divulgadores foram Tobias Barreto e Sílvio Romero (1851-1914), partidários do culturalismo alemão e do evolucionismo de Spencer (1820-1903), respectivamente.
Podemos citar como o filósofo brasileiro de maior fôlego e originalidade Raimundo de Farias Brito (1862-1917), o maior representante da filosofia em nosso país. Este pensador procura desenvolver uma investigação de caráter próprio acerca dos principais temas filosóficos atrelados aos problemas existenciais: a verdade, a vida, a dor, a morte. Segundo Raimundo de Farias Brito (1862-1917), a moral e a finalidade última da filosofia; esta deve atender às inquietações intrínsecas ao ser humano.
No princípio do século XX, vemos surgir Leonel Franca (1893-1948) como um dos nomes mais representativos do pensamento filosófico deste período. Pensador neotomista, desempenhou importante papel na restauração e renovação deste pensamento, frente às questões trazidas pelas doutrinas materialista e espiritualista.
O pensamento filosófico em nosso país foi, ao longo do século XX, ampliando seus horizontes e suas áreas de contato. Apesar de ainda não podermos falar em uma “filosofia do Brasil”, é possível abordar a filosofia no Brasil como sendo matéria de interesse crescente. Em nosso país, algumas universidades divulgam uma gama muito diversificada de correntes, ocorrendo estudos aprofundados e intercâmbios com os principais pensadores de nosso século.
Podemos citar, como principais direcionamentos da investigação filosófica brasileira atual: a filosofia analítica, o pensamento existencial francês e alemão, as filosofias antiga e moderna, o marxismo (leia sobre Karl Marx), a ética, a epistemologia, a lógica, a filosofia francesa contemporânea.
Filosofia Oriental
Apesar de geralmente se falar de “filosofia” oriental, tal denominação não é apropriada para caracterizar o pensamento do oriente, pois a filosofia é uma experiência de pensamento do homem ocidental.
Enquanto o pensamento no Ocidente, a filosofia, se caracteriza em ser eminentemente laico, no Oriente todo pensamento está estreitamente vinculado com a experiência mística, não havendo a menor possibilidade de sua compreensão fora dos pressupostos religiosos.
Assim, chamar de filosofia o pensamento oriental é reduzí-lo à nossa experiência de compreensão de realidade, ofuscando a verdade própria deste pensamento.
O que chamamos de filosofia oriental circunscreve em geral a cosmologia iraniana e seus múltiplos elementos religiosos, em particular o zoroastrismo, o pensamento indiano, o chinês e o japonês; todavia, em sentido estrito, por este termo compreende-se o pensamento budista da índia e da china.
A filosofia oriental, em quase toda a sua totalidade, busca a salvação do homem através de uma purificação que promova a sua reintegração na unidade cósmica.
Para a compreensão do homem oriental, a alma precisa cumprir o seu carma para poder se libertar do corpo.
O carma é o conjunto de ações que compõe o destino de cada um, bem como as suas conseqüências futuras; pois como a alma transmigra para outros corpos antes de se libertar, ela trás consigo os conteúdos das vidas passadas, que devem ser purificados para a libertação definitiva.
Ao contrário do pensamento ocidental que é eminentemente proposicional e analítico, o oriental ocorre no silêncio da meditação ou no exercício marcial, cuja finalidade é a ascese mística do corpo que proporciona a iluminação espiritual.
O que conduz a esta iluminação é chamado de satori e só é conquistado com a quebra da individualidade do eu numa comunhão com a unidade de todas as coisas, o tao.
Para este pensamento, a sabedoria do mestre consiste na sua habilidade de conduzir os discípulos a esta iluminação, através do que eles denominam de koan: uma palavra ou ação que abre uma compreensão que, rompendo o pensamento subjetivo da representação, instaura um sentido de unidade esclarecedor do fundamento da realidade.