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Edmund Husserl (1859-1938)

Filósofo alemão, considerado o criador da fenomenologia. Nasceu em Prossnitz, Morávia. Iniciou seus estudos na Universidade de Leipzig, dedicando-se à astronomia. Voltou-se então para o estudo da matemática, realizado nas universidades de Berlim e Viena, onde recebeu o grau de doutor em 1882. Buscando uma fundamentação para as ciências matemáticas, teve seu interesse despertado pela filosofia.

Passou a assistir às aulas de Brentano (1838-1917) na Universidade de Viena, tornando-se seu discípulo. Passando a dedicar-se exclusivamente a investigações filosóficas, lecionou, desde 1884, nas universidades de Berlim, Viena, Halle, Göttingen, e Freiburg, sendo jubilado, em 1928.

Com a ascensão do nazismo ao poder, em 1933, Husserl, que era de família judaica, foi proibido de deixar a Alemanha. Faleceu em Freiburg. Algumas de suas principais obras: Sobre o conceito de número; Filosofia da aritmética; Investigações lógicas; A filosofia como ciência estrita; Idéias diretrizes para uma fenomenologia; Fenomenologia da consciência do tempo imanente; Lógica formal e lógica transcendental; Meditações cartesianas.

O pensamento de Husserl parte da necessidade de constituir um saber absolutamente rigoroso, que sirva de modelo e fundamento a todo e qualquer conhecimento. Mesmo a matemática e a física, ciências consideradas rigorosas, uma vez que possuem princípios necessários e fundamentados, não são, contudo, capazes de apreender seu próprio fundamento.

Segundo Husserl, somente a filosofia, compreendida enquanto ciência absolutamente rigorosa, pode fornecer a si mesma e às demais ciências uma possibilidade real de fundamentação. A filosofia, a fim de realizar tal tarefa, deve prescindir dos dados empíricos do conhecimento prático, encontrando acesso à evidência plena a partir de uma apreensão da idealidade transcendente.

Surge, assim, o método fenomenológico, no intuito de fornecer um conhecimento que fundamente de modo essencial toda particularização da realidade.

Trata-se, em princípio, de escapar da dicotomia, operada pelas doutrinas psicologistas, entre sujeito e objeto. Para Husserl, a realidade se estrutura como fenômeno, a partir de uma dupla polaridade. Por um lado, a consciência deve ser pensada desde sua característica primeira, a intencionalidade; ao invés de existir como um ente determinado, a consciência é pura atividade.

Esta, por sua vez, caracteriza-se como um “ir ao encontro”, de modo que não se pode falar de consciência sem especificar “de que” a consciência trata, sem especificar isto a que ela, constantemente, se remete. Simultaneamente, não se pode falar em objetos destituídos de qualquer apreensão ou relação a uma consciência.

Deste modo, a fenomenologia é um método centrado na consciência, esta compreendida desde seus dois pólos: a consciência enquanto movimento para um objeto, denominada por Husserl noesis; e o objeto que, a cada vez, é visado pela consciência, chamado noema.

O modo de apreensão, pela noesis, de um determinado noema, se dá de modo sempre e necessariamente particularizado. Um fenômeno constitui-se sempre como uma perspectiva, um determinado recorte na estrutura da consciência. É preciso encontrar uma atitude que transcenda o plano puramente fenomênico, de modo a fornecer o fundamento totalizador da consciência, de forma que se possa alcançar o princípio constituidor de uma ciência absolutamente rigorosa.

É necessário operar uma suspensão ou redução (Husserl utiliza a palavra grega epoché) que visa pôr entre parêntesis toda referência ao mundo exterior, toda crença em sua realidade, características do conhecimento natural. Através desta redução, não somente o mundo, mas sua própria apreensão por um sujeito cognoscente ficam apartadas.

Este procedimento é, igualmente, denominado redução transcendental; o que ele torna manifesto é a estrutura necessária e transcendente da consciência, capaz de apreender, em seu caráter noético-noemático, essências ou idéias puras. Deste modo, as coisas se revelam em sua idealidade, tornando-se passíveis de apreensão e definição completas pela consciência.

Simultaneamente, o eu se revela em sua estrutura transcendental, como ego puro; ele é a vivência ou permanência transcendental, que perpassa e dá sentido a todos os momentos vividos perspectivisticamente.

A filosofia de Husserl influenciou marcadamente alguns dos maiores pensadores do século XX, como Max Scheler (1874-1928), Martin Heidegger (1889-1970), Ortega y Gasset (1883-1955), Jean-Paul Sartre (1905-1980), Merleau-Ponty (1908-1960). A radicalidade e complexidade de seu pensamento faz de Edmund Husserl um dos maiores nomes da filosofia de todos os tempos.

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Fonte: •Enciclopédia Digital 99 • ( Literatura e Leitura ) •